Eu sou a Raquel e tive a ideia da Volare muito antes de saber qual seria seu nome, como ela funcionaria, antes mesmo de saber italiano e de saber que esse sonho seria possível em alguma medida.
Sempre gostei de estudar, de ler, de descobrir o que estava meio oculto e silencioso no meio dos livros e um dos livros que mais gostava na adolescência era o Lezioni di italiano, livro que ganhei do meu avô quando comecei meu curso de letras. Quando ele me deu, já tinha lido boa parte dele tentando descobrir o que é que estava sendo dito e ensinado nele, mas sozinha era difícil demais.
Quando decidi que queria Letras, tinha na minha vida um excelente professor, dava aulas aqui no meu bairro da Zona Leste de São Paulo, na garagem, ensino remoto não era moda ainda, mas ele acreditava na linguística aplicada como uma ferramenta de cidadania através do idioma que ele ensinava, que era o Inglês e acreditava tanto que me dava aula de graça. Ele faleceu antes que eu chegasse ao segundo ano da faculdade, mas foi o inglês dele que me permitiu chegar até a possibilidade de estudar letras clássicas na Universidade de São Paulo e de acessar toda aquela bibliografia enorme sobre Virgílio e Cícero, mas os caminhos tomaram outros rumos.
Percebi que o melhor lugar para estudar o que eu estudava, Latim Clássico, era a Itália, era Roma, e mudei as estradas que estava seguindo e comecei a estudar italiano na universidade mesmo, fazendo quase tudo ao mesmo tempo no silêncio das bibliotecas. Nas aulas em grupo eu era a que se misturava menos, sou tímida, apesar de comunicativa até demais, preferia observar como a aula acontecia e quais eram os motivos que cada um tinha para estudar aquela língua que eu queria estudar também. E estudei, estudei, estudei até que, com o certificado dado pela Prof.a Dra. Elisabetta Santoro e a carta de recomendação do Prof. Dr. Marcelo Vieira, a USP me deu a bolsa mérito para estudar o que eu queria: Latim clássico lá na Itália.
A partir desse momento comecei a me perguntar: Como foi que eu aprendi italiano? Como é que alguém aprende italiano? Como pode uma língua, que não é a nossa, abrir tantas portas assim? Nunca deixei de me fazer essa pergunta e de observar as respostas de cada uma das pessoas que vi aprenderem italiano nesses tempos e, quando voltei ao Brasil, vi aprenderem italiano comigo. Surgiu uma oportunidade de ensinar um pequeno grupo aqui, uma ex colega ali e revisitei essas anotações de ensino de língua estrangeira que herdei do meu professor de Inglês, não era meu sonho ensinar italiano, a princípio, às vezes eu não me permitia ficar pensando tanto em sonhos.
Depois dessa primeira aula que dei no início de 2019, não houve um dia em que eu não tenha pensado em ensinar italiano, em didatizar o italiano que eu conhecia e nas maneiras de fazê-lo com técnica e afeto a todos aqueles que desejassem estudar comigo. Eu era a estudante tímida e quieta quando tentava aprender e senti o valor que tiveram algumas aulas específicas que me fizeram participar, entender e me formar aos poucos, um dia após o outro, naquilo que eu desejava, acessar do outro lado do mundo o meu objetivo.
A Volare nasceu um pouco de tudo isso e principalmente na necessidade de dar corpo ao que acontecia na minha rotina, que passou de um aluno a quinze em um intervalo de seis meses, um indicando o outro, um pouco pelo material, um pouco pela didática, um pouco pela formação e, enfim, nunca soube bem todos os motivos. Sei que no meio remoto tudo ficou mais acessível online e, como minhas aulas sempre foram online, achei que seria boa essa hora de colocar nas redes sociais de maneira organizada e pensei em tudo, como organizaria o material, como organizaria o módulo de língua, como faria com os novos estudantes, se houvessem, e o nome não vinha.
Analisei outras páginas de professores e professoras, de escolas, sabia que era importante ter italiano no nome e que deveria demonstrar em uma palavra todas essas palavras que usei para descrever esses percursos acima, mas é difícil isso de se expressar em duas, três palavras. Até que um dia, pensando na Itália, nos motivos que me fazem gostar dela e desse meu percurso todo de estudo, me veio à memória uma música que gosto, na versão do Il Volo:
Poi d’improvviso venivo dal vento rapito
E incominciavo a volare nel cielo infinito
(E, do nada, ero capturado pelo vento
E começava a voar no céu infinito)
Olhava minha trajetória um pouco como caminhada, um pouco como trabalho de formiga, todo dia estudando um pouquinho tentando construir paredes de um formigueiro nos livros, e nesse dia olhei pra cima, pensei nessa música e decidi que era vôo; foi em um avião que tive que subir pra chegar até essa língua, esse conhecimento que não tinha aqui, esses pontos turísticos de filme romântico, esse país de onde vêm muitos antepassados de muitos brasileiros.
Decidi que seria Volare in italiano por ser vôo na imensidão do céu de possibilidades o presente que essa língua me deu e que tento dar também aos meus estudantes. O trabalho gráfico conseguiu traduzir tudo isso ao jeito volare de ser nas redes sociais desde o início e o designer Carlos Oliveira tentou representar a Itália de maneira leve, moderna, dinâmica e nada estereotipada. O passarinho e seu vôo são um pouco do vôo da Volare na aula, claro, mas se você olhar bem, talvez consiga ver um livro aberto, como as inúmeras possibilidades de acesso com uma nova língua.
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