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Foto do escritorRaquel Goes

Um ethos de professora



Ciao, carisima persona che studia con noi!

 

Come stai?

 

Eu estou bem e aconteceu algo bonito na última semana. Fiquei pensando se compartilharia mesmo esse evento tão pontual e ao mesmo tempo tão íntimo, sem contar também que ele termina um pouco triste.

 

Mas decidi fazê-lo por entender que isso faz parte da minha formação e do meu ethos como professora.

 

Na filosofia antiga, o ἔθος era o comportamento corriqueiro, o hábito de um determinado sujeito na sociedade. E desde muito cedo eu soube que meu ethos era o que tenho hoje, uma vida normal de professora.

 

E minha primeira experiência em uma sala de aula universitária, a primeira vez em que estive em uma universidade, foi em uma aula que explorava de maneira muito elementar esse e outros conceitos gregos.

 

Meu professor de inglês daquela época me levou até sua aula de literatura grega na UNIFESP, onde ele cursava letras na época. Ele sabia que eu gostava de estudar e a gente sabia que minha vida universitária dependia da entrada em uma universidade pública.

 

Ele me mostrou que o inglês era possível, em aulas na sala que ele mesmo havia construído na própria garagem para dar aulas no bairro. Ele, um homem cheio de sonhos e apaixonado por linguística, era complexo. Ao mesmo tempo que era um linguista intelectual, era dono de uma sorveteria no bairro e o cliente mais assíduo do buteco do meu avô, nunca deixava de tomar uma pinga e fumar um cigarro do Paraguai por lá.

 

A Raquel de 15 anos foi inspirada por tamanha complexidade e foi com o incentivo dele que prestei os vestibulares que pude e passei, no mesmo curso que ele. Pouquíssimo tempo depois da minha matrícula, ele faleceu e nunca soube que eu segui na área de clássicas, depois passei pela linguística aplicada e fiz, como ele, uma escola de aulas particulares.

 

Alguns meses depois que ele se foi, na hora de passar por todo esse processo físico que o luto exige, a irmã dele precisava tirar do caminho o que fora dele, os materiais, os livros, que não faziam mais sentido sem ele. Ela me chamou lá e me disse:

 

“Pega o que quiser. E o que você não quiser, vou vender.” Foi assim que acabei com uma biblioteca pessoal de linguística e de ensino de inglês, que nunca li e talvez nunca o faça.

E essa semana lembrei disso, porque dei uma aula de conversação na qual a minha aluna falava de como foi o processo dela enquanto professora de inglês e de como ela gostaria de consultar certas coisas em uma enciclopédia da língua inglesa. Logo acima de mim, no meu espaço íntimo de trabalho, vi os livros do meu professor.

 

A partir disso, voltei a essas memórias da Raquel de 15 anos e pensei no quanto aqueles livros, mesmo que eu não tenham sido usados propriamente, foram parte fundamental da minha formação e do meu processo de desenvolvimento como professora.

 

Hoje, tenho muitos amigos e a amigas que ensinam inglês. Estudo inglês há três anos e mantenho essas memórias silenciosas comigo, como parte do meu ethos como professora. E faço isso enquanto passo meus dias ensinando língua, linguística, gramática e sobretudo afeto, como um dia me ensinaram também.

 

Buona settimana!

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