Em uma das minhas últimas disciplinas da minha licenciatura em italiano na Faculdade de Educação da USP tive que responder e analisar a seguinte pergunta durante muito tempo e de diversas maneiras:
“Como é o professor ideal?”
Entre as mais variadas respostas mencionadas pela professora, pelos colegas, pelas entrevistas realizadas com professores e alunos durante o semestre, uma em especial fica ecoando no meu cotidiano de professora. A pergunta foi realizada via google forms e a estrutura era assim:
A sala com uns trinta e poucos estudantes de licenciatura das mais diversas áreas se encheu dos sons de um amontoado de risadas abafadas pelas máscaras. Um curso de futuros professores formados, a grande maioria já professores com diferentes áreas de atuação, achou graça de duas palavras seguidas de um ponto final como resposta a essa pergunta. Pessoalmente, achei bastante cômico também, jamais responderia nada nem parecido com isso.
Você acha engraçada essa resposta também? Já se perguntou como é um professor ideal? E o seu professor ideal, acha que ele serve pra todo mundo?
A palavra ideal, na verdade, me lembra um podcast que me acompanha já há algum tempo e de maneira muito forte, já que o primeiro episódio que ouvi se chama 'O ideal anula o possível'.
Quando respondi essa pergunta mentalmente em sala de aula, de pff2, naquele calor danado do início do semestre no verão e com a minha respiração embaçando as lentes dos meus óculos eu pensei 'ah, não vou escrever não, não se atinge ideal mesmo' e imediatamente lembrei da voz da Natália Sousa, podcaster que falou tão bem sobre esse adjetivo assombrado na cabeça de todo mundo de alguma forma por algum motivo. Todo mundo tem um ideal de algo e, se é ideal, geralmente não caminha ao lado do que é possível e realizável.
Naquela tarde, na FE-USP, não escrevi nada na folha dada pela professora da licenciatura, mas pensei que meu professor ideal era o professor possível pra mim, disposto a ensinar o que sabe sobre algo, mas ensinar também um pouco de todo o resto de mundo que não necessariamente cabe na sala de aula.
Deus me livre de me colocar como uma professora ideal, minha escola como uma escola ideal, meu papel de filha e amiga como um papel ideal, porque seria uma mentira de mim pra mim, antes de vir a ser uma mentira de mim pros outros.
A minha prática docente é a prática docente em que eu acredito, claro, mas ela não é o ideal de tudo e de todo mundo, o objetivo de todo mundo e ainda bem, afinal, olha o tamanho desse mundo! Olha o tanto de questões e vivências que existem dentro de nós, dentro da sociedade, dentro de cada uma das sala de aula presenciais e virtuais desse mundo!
É bem individual essa ideia de idealização e colocar o professor nesse lugar de perfeição, de hierarquia e até de centralidade é uma escolha que, como professora, não faço e, como aluna, me faz desgostar um pouco do professor.
Terminado o curso, penso que o meu professor ideal é a professora que eu tento ser, não a que eu necessariamente sou, mas alguém que dá instrumentos para que o aluno caminhe com as próprias pernas e siga a estrada que desejar seguir, crie individualidade, autonomia, perspicácia e senso crítico na língua que escolheu aprender. Nem todo mundo vai gostar da busca por esse ideal, vai ter gente que vai preferir uma cartilha com livro didático e impresso, vai ter gente que vai preferir italiano para turismo, italiano focado especificamente em provas e depois nunca mais usar o idioma na vida. Essas pessoas vão ter outros professores ideais, e ainda bem, porque no mundo existe espaço pra cada um de nós, cada um dos objetivos e, no meu trabalho de formiguinha, quando meu ideal vai se tornando pouco a pouco mais perto do possível, vejo que tem espaço sim e que o meu ideal è o dos meus alunos também.
E você, já pensou em como é seu professor ideal? Conta aqui e vamos ter uma conversa sobre isso!
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