Cada pessoa que procura por aulas de idiomas tem em mente alguns objetivos específicos. Cidadania italiana, conversas em uma viagem, interações sociais dos mais diferentes tipos e, no mundo ideal, os objetivos e as demandas sinalizadas no início de um curso são atingidos no fim dele.
Mas o que é o fim de um curso? O que são cada um dos fins práticos colocados na sala de aula por tantas pessoas que buscam aprender línguas no Brasil? Como a sala de aula pode dar conta de tanto e ainda ensinar uma língua? Como pensar em tudo isso no meio online?
Foram essas e tantas, tantíssimas, perguntas semelhantes a essas que respondi a mim mesma quando comecei a Volare. Passei de um lugar de aluna de língua italiana para um lugar de professora de língua italiana e diariamente, desde o início desse percurso, penso e tento teorizar sobre isso e sobre o meu papel no ensino e na aprendizagem do italiano.
“Mas qual é seu método?”
Essa pergunta me chega desde a primeira aula do primeiro dia e, digo com muita sinceridade, alguns desistiram depois da resposta que dei, que foi uma outra pergunta:
“Mas o que é método?”
Claro que eu mesma também não sabia responder a essa pergunta e nem teorizar sobre nada do que pensava antes do primeiro curso de didática que fiz e que mudou completamente minha concepção de ensino, pedagogia e papel político-social da sala de aula. O curso era Ensino e Aprendizagem da Língua Italiana, ministrado pela Profa. Dra. Fernanda Ortale na Faculdade de Educação da USP e ali aprendi que pedagogia, didática, estratégias de ensino e tantas palavras mais técnicas a respeito da área educacional possuem uma porção de definições em diversos autores.
Encontrei ali o que tentava fazer ainda engatinhando e era o chamado Pós-Método, teoria pedagógica sobre o ensino e aprendizagem de línguas proposta nos anos 80 por Kumaravadivelu, um pesquisador e professor indiano. Incrível foi saber o que essa teoria trazia até o centro da sala de aula: a autonomia do professor, o papel social e político do aprendizado e do ensino, as estratégias possíveis e tanto mais que parece ser possível, segundo o Kumaravadivelu, dentro da sala de aula.
Acho bonita uma pedagogia de ensino que trabalha com a possibilidade e com a particularidade e isso não se trata de aulas particulares apenas, mas de um olhar atento aos alunos como um todo e percebo durante a minha prática a aplicação de um pós método ótimo para os alunos em turma também.
Aprender italiano como língua estrangeira pode até ser o propósito, mas ver-se como estrangeiro, se colocar como corpo e mente estranhos ao espaço linguístico que você passa a ocupar não é a ideia central. A ideia é pessoalizar, determinar as estratégias que cada aluno pode e deve ter diante da nova língua com seu próprio objetivo.
Professores nativos e pesquisadores do mais alto nível das universidades mundo afora teorizam sobre isso também e é claro que muitas vezes funciona, todo método pode funcionar ou fracassar em alguma medida, mas é importante que, como alguém que deseja estudar línguas, você saiba política e socialmente o lugar que você ocupa e quais lugares você pode desejar ocupar e passar a ocupar com segurança.
Aa aulas aqui não são um treinamento, não há um programa fechado e, embora sigamos as habilidades do QCER (Quadro Comum Europeu de Referências), as estratégias, as aulas, as atividades e os percursos pedagógicos são definidos aos poucos por meio da teoria, da pessoalidade e da horizontalidade.
Ah e se você quer se aprofundar mais nessa teoria e conhecer melhor os autores que menciono nesse texto, recomendo a leitura do artigo A Pedagogia Pós-Método: o ensino de línguas como compromisso político para além da sala de aula, escrito pela Profa. Fernanda Ortale, pela Solange Aparecida Cavalcante Ferri e pelo Marcos Airam Ribeiro e Silva, na revista de italianística da USP
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