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Foto do escritorRaquel Casini

Como é uma aula online?


Quatro pessoas posam para uma foto, uma ao lado da outra. Da esquerda para a direita: André, um homem branco de estatura média veste uma camiseta vermelha e calça jeans; Raquel, que sou eu, visto uma camiseta preta da banda Sepultura e um boné claro. Amanda, uma mulher alta veste um cropped e uma saia longa pretos. Gui, por último, veste uma camiseta azul e bermuda cinza. Eu estou segurando na minha mão direita a coleira da cachorrinha Kika, uma vira-lata preta de pernas curtas, semelhante a um salsichinha. Ao fundo se encontra a Igreja de Nossa Senhora das Mercês, no Centro Histórico da cidade de São João del Rei em Minas Gerais.

Ciao, carissima persona che studia con noi!

 

Come stai?

 

Eu estou muito bem e muito feliz com a minha viagem a Minas Gerais dessa última semana. Viajei para conhecer a cidade de amigos muito queridos que são também alunos da Volare. E ao longo dos últimos dias, me peguei pensando de que forma essas pessoas passaram a ser também meus amigos fora da sala de aula, sendo que nosso contato acontecia praticamente só dentro dela e em italiano ao longo de 4 longos anos.

 

Começo dizendo que não há um jeito certo, perfeito e indiscutível de realização de uma aula, seja ela online ou presencial. A sala de aula é composta por pessoas, indivíduos, seres humanos diferentes uns dos outros.

 

Parece óbvio, mas muitas vezes é importante enunciar o óbvio, para que ele jamais seja esquecido, e não só. É importante que essa individualidade e essa humanidade estejam presentes nas aulas, porque sem isso nada acontece profundamente.

 

Com a pandemia de 2020/2021, houve uma explosão gigantesca de cursos, mentorias, aulas ao vivo e gravadas, consultorias e infoprodutos cheios de firulas e ao mesmo tempo escolas tradicionais e consolidadas passaram a adaptar em pouquíssimo tempo a metodologia presencial para uma modalidade online. Minha prática como professora já existia antes, mas se consolidou ali naquele período.

 

E ao unir minha bagagem adquirida na licenciatura em italiano a uma profunda empatia com quem me procurava para um percurso de formação, encontrei estratégias que fazem parte do meu cotidiano e que me guiaram ao longo desse percurso.

 

A primeira delas foi literalmente escutar meu aluno. Entender o que a pessoa buscava e de que forma o italiano poderia ou não fazer sentido na vida dela. Tanto nas aulas ao vivo quanto no curso híbrido, começo buscando entender o modo em que aquele indivíduo se coloca no mundo, porque se ele busca se comunicar em outra língua, preciso conhecê-lo minimamente antes de iniciar o percurso ao lado dele.

 

A segunda é escolher um material adequado que se encaixe na demanda apresentada. Muitas vezes isso culminava na criação de um material personalizado, mas sempre baseado em materiais ora autênticos (não necessariamente pensados para o ensino de italiano), ora didáticos, com qualidade e elementos culturais interessantes sobre língua, literatura e cultura italiana.

 

A terceira é a questão técnica, porque o ensino online nunca me pareceu uma mera transposição do que acontece no presencial. No online, os turnos de fala são diferentes, muitas vezes a concentração é menor se comparada ao presencial e vemos a pessoa apenas dos ombros para cima na nossa tela. Então, ter uma boa conexão, uma boa plataforma tanto de reunião como de disposição dos materiais, um bom microfone, uma boa disposição visual do material, com elementos gráficos para além de letras pretas em um fundo branco e boa condução das discussões e controle dos turnos de fala foram essenciais ao longo dos anos.

 

E a quarta, que na minha percepção é o que de fato faz com que funcione ou não, é o pacto entre o aluno e a professora. O desejo que o aluno tem de aprender italiano tem que estar diretamente ligado ao compromisso de fazê-lo. E todas as estratégias anteriores dependem exclusivamente da equipe escolar, da professora e da organização da escola, mas a quarta é uma via de mão dupla. De nada adianta um material bem diagramado como tarefa, se o aluno nem abre. Não é de nenhuma ajuda um resumo de tópicos difíceis para brasileiros, se o aluno não chega nem a tentar entender e se deparar com as dificuldades. O melhor assunto culturalmente engajado não adianta muito, se o aluno não tem organização, disciplina e privacidade para conhecê-lo e colocá-lo em discussão na nova língua.

 

O compromisso com o aprendizado me parece o maior desafio da aula online, porque todas as facilidades que esse tipo de aprendizagem envolve parecem mascarar essa que é a dificuldade mais ampla atualmente: o ato de se concentrar em uma única coisa durante muito tempo. Seja ao vivo, seja gravada, seja em uma modalidade híbrida, a aula online depende da disciplina e da seriedade do aluno de maneira inevitável, muito mais que a presencial.

 

Se a aula é ao vivo e o aluno está com a cara no celular, a professora pode simplesmente dizer "fulano, tô explicando agora, essa parte é importante" e tentar trazer de volta a concentração daquele aluno. Já no online, se a pessoa compra o curso e não faz, marca o horário e não aparece, pede a tarefa e nem abre, não tem ninguém que chame a atenção e redirecione o eixo. É a responsabilidade individual de cada um.

 

No universo online, nós adultos precisamos ser ainda mais adultos e isso é muito desafiador para o aprendizado. Como professora, não trocaria o online por nada, porque acho de fato que as vantagens são muito maiores do que as desvantagens. No entanto, só tem funcionado porque o pacto essencial nunca foi quebrado dentro da nossa sala de aula.

 

Claro que ao longo de um período de formação, temos nossos dias bons e dias não tão bons. Sentimos cansaço, preguiça, tédio, indisposição, mas em algum momento essas sensações precisam dar lugar ao comprometimento de realmente estudar de maneira ativa essa novo idioma. E os inúmeros estilos de aprendizagem, na aula online, são muito mais fáceis de aplicar. Quem gosta de jogos, quem prefere exercícios comunicativos, quem tem preferência por leitura ou produção escrita, quem é mais do cinema... As possibilidades são mais acessíveis no digital, mas alguma possibilidade precisa existir com regularidade e com respeito a esse pacto que acontece sempre de maneira dialética.

 

E sobre a amizade, acho que cada um desses detalhes ao longo dos anos fizeram desses alunos mais próximos de mim como pessoa, não apenas como uma conexão com o que eles desejavam obter, que era o conhecimento em italiano. Nos dias bons e nos dias ruins, nosso pacto continuou e continua enquanto aprendizes de italiano e de muitas outras coisas dessa vida.

 

Buona settimana!

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